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Aparência importa sim

Teste exclusivo feito por VOCÊ S/A confirma: quem se veste mal não ganha nem a chance de mostrar sua competência

Por Daniela Diniz

Raul Junior

Sabrina Carbone, executiva de marketing, entre as duas produções escolhidas para o teste: detalhes como cor e tecido fazem toda a diferença na aparência.

Dois segundos. O tempo que você leva para dizer bom-dia a um headhunter é exatamente o tempo de que ele precisa para formar a primeira impressão sobre você. Os dados são de uma pesquisa da Universidade Harvard e, no mundo dos negócios, podem ser traduzidos assim: sua aparência é tão importante quanto a sua formação e experiência profissional. Se o visual não agradar, pode dizer adeus àquele cargo que você tanto deseja. Porque ele jamais será seu. Numa entrevista de emprego, não tem currículo, plano de carreira e referência profissional que resistam à má impressão provocada por um terno de segunda, um decote exagerado ou uma maquiagem carregada. Num primeiro olhar, são esses pecados que grudam no subconsciente da pessoa que está lhe avaliando. E é praticamente impossível conseguir arrancá-los de lá.

Foi exatamente isso o que mostrou um teste feito com exclusividade para esta reportagem, para verificar até que ponto o visual interfere na contratação. A pedido da VOCÊ S/A, dois executivos paulistas passaram pela avaliação de quatro recrutadores (dois homens e duas mulheres): Sabrina Carbone, de 35 anos, executiva de marketing com especialização na Universidade da Califórnia-Santa Bárbara, e Emerson Walter dos Santos, de 29 anos, executivo de marketing com MBA Executivo pelo Ibmec. Os headhunters analisaram currículo, aparência, experiência, comunicação e adequação a uma vaga fictícia, criada por nossa equipe.
Nas duas primeiras ocasiões, os dois usavam roupas, sapatos e acessórios inadequados para uma entrevista de emprego. Nas outras, estavam cuidadosamente vestidos e maquiados, seguindo as orientações da consultora de imagem Ilana Berenholc (veja as fotos ao longo da matéria e uma entrevista com Ilana). O resultado deixou todo mundo de queixo caído. Com o mesmo currículo e a mesma experiência profissional, os dois arrancaram elogios de uma das duplas de headhunters e várias críticas da outra. A única diferença de uma entrevista para a outra era exatamente a aparência.

OLHEIRAS Ar de cansado
CAMISA amarela com textura e colarinho mole
GRAVATA de poliéster, dura, com nó pequeno
PRENDEDOR DE GRAVATA nunca deve ser usado
BOTÕES Todos os botões do terno fechados
TECIDO DO TERNO sintético, com padronagem chamativa
PASTA de modelo antigo em cor destoante
CALÇA muito comprida
SAPATO mocassim marrom com solado

CABELOS volumosos
MAQUIAGEM carregada e brilhante (sombra combinando com a cor do terno)
BIJUTERIAS Brincos grandes e de strass, assim como o anel e a pulseira
DECOTE exagerado
TERNO claro, em cor inapropriada para entrevistas
CALÇA justa e curta
BOLSA com grandes argolas prateadas
SANDALIA muito alta, com dedos à mostra

Para começo de conversa, numa das empresas Sabrina não ganhou nem cafezinho quando estava mal produzida. No quesito aparência, ela foi criticada pelo decote profundo, pelo terno justo e de cor clara, pelos acessórios brilhantes e pela maquiagem pesada. Os dois headhunters que a avaliaram nessa versão não ficaram impressionados com seu currículo, nem se deram ao trabalho de conversar com ela em inglês, procedimento rotineiro numa seleção desse porte. Ambos foram taxativos: não encaminhariam a executiva para nenhuma das empresas que atendem. "Parecia que ela ia para uma festa e não para uma entrevista de emprego", disse um deles. Com Emerson, o desastre se repetiu. Quando foi indagado sobre o visual do profissional, um dos headhunters disparou uma metralhadora contra o executivo. "Ele estava malvestido e com ar de cansado. Dava para perceber que o terno era novo, mas inadequado para a ocasião e para o próprio profissional. Vestia mal e ficava ainda pior com a camisa de tom amarelo-claro e o prendedor de gravata! Sem falar naquela pasta horrível e no sapato com solado de borracha." Resultado: desclassificado.

Um dia depois, Emerson e Sabrina foram entrevistados por dois outros headhunters. Ela usava terninho preto de uma conceituada grife brasileira, escarpim preto de salto médio, acessórios e maquiagem discretos, cabelo na escova. Ao vê-la entrar, um dos recrutadores disse que ficou convencido de que ela justificaria um salário de 15 000 reais, mesmo antes de entrevistá-la. Outro revelou que, apenas com o currículo em mãos, não tinha ficado muito curioso para conhecê-la. "Mas, quando a vi, pensei: 'Ela vai ter uma boa justificativa para sua vivência profissional e deve ter boas histórias para contar'." Emerson não deixou por menos. Vestiu terno cinza-escuro, camisa branca, gravata de seda e sapatos pretos de amarrar. Transmitiu tanta credibilidade que um dos headhunters perguntou se podia ficar com seus contatos para o caso de surgir uma vaga de verdade, em uma das empresas com que trabalha. Tanto ele como Sabrina disseram que, quando estavam clássicos e elegantes, conseguiram o dobro do tempo nas entrevistas e passaram pelo teste da conversa em inglês. "Me senti muito mais valorizada. Quando estava malvestida, a entrevista mais parecia um check-list", diz Sabrina.

CAMISA branca
GRAVATA de seda com listras diagonais e nó Windsor (clássico)
BOTÕES Último botão do terno aberto
TERNO de cor escura, de tecido adequado: lã fria com padronagem discreta
BAINHA na medida certa
SAPATO preto de amarrar

CABELOS com escova
MAQUIAGEM discreta em tons de marrom
CAMISA branca sem expor o colo
TERNO clássico e escuro,com detalhes sutis
ANEL Discreta peça de designer: toque de personalidade sem perder a classe
BOLSA média, preta e discreta
BAINHA na medida certa
ESCARPIM
preto com salto médio

Ele usa terno e camisa Crawford, sapato Shoestock e gravata VR Ela usa terno Lita Mortari, camisa Siberian,sapato Arezzo,bolsa e anel do acervo pessoal de Ilana Berenholc.


OS FEIOS QUE ME DESCULPEM...


O teste é uma mostra do que acontece diariamente nos processos seletivos realizados Brasil afora. VOCÊ S/A ouviu alguns dos principais headhunters do país sobre a questão da aparência. E o que eles revelaram não é muito diferente do que Emerson e Sabrina sentiram na pele. "A primeira impressão conta muitos pontos na seleção", diz Renata Filippi Lindkuist, headhunter da Mariaca & Associates, consultoria de recrutamento e aconselhamento de carreira, em São Paulo. "O executivo feio, baixo, fora dos padrões básicos de beleza precisa estar impecavelmente vestido para ganhar mais tempo na entrevista e provar sua competência. "Em contrapartida, os bonitos já são recebidos com bônus. "Você não espera alguém lindo na sua sala. Mas espera alguém adequado para uma entrevista", afirma Carlos Diz, sócio do Instituto de Liderança Executiva, no Rio de Janeiro, e ex-sócio da SpencerStuart, uma das maiores empresas de recrutamento do mundo. "Estar bem vestido nessa hora faz muita diferença, pois você mostra para o entrevistador que está preocupado com a imagem que está passando", explica.

A preocupação dos headhunters com a aparência dos candidatos é tanta que rendeu um capítulo inteiro do livro Como Conquistar Uma Ótima Posição de Gerente ou Executivo... E Dar Um Salto Importante em Sua Vida Profissional (Editora M. Books), da consultora Sharon Voros, recém-lançado no Brasil. Num dos trechos, a autora descreve o comportamento dos headhunters norte-americanos antes de conhecer um profissional. "Alguns dos momentos mais tensos acontecem no aeroporto, onde os recrutadores costumam marcar reuniões com os candidatos", escreve Sharon. Quando os passageiros desembarcam, todo headhunter torce para que o seu candidato seja alto, bonito e muito elegante. Exatamente como no Brasil. Alguns dos recrutadores entrevistados para esta reportagem dizem fazer até apostas sobre o candidato que seus clientes vão escolher. "Nem sempre é o melhor", diz uma ex-headhunter paulista, com 15 anos de experiência em seleção de altos executivos. Ela conta que uma vez apresentou cinco profissionais para um cliente. A seleção estava na etapa final, o que significa que todos eles apresentavam um ótimo padrão de competência e adequação ao cargo. "Um deles tinha o melhor perfil. E nós sabíamos disso. Mas sabíamos também que ele não seria o escolhido, pois tinha uma grande cicatriz no rosto", lembra. "Entre os cinco, havia um que, além de competente, era muito bonito. Sem dúvida, ele foi o escolhido."

Outro experiente headhunter conta que, uma vez, ficou muito impressionado com o currículo de uma candidata. Ao entrevistá-la por telefone, sentiu a mesma energia positiva. No dia da entrevista pessoal, porém, veio a grande decepção. "Ela estava preparada para sair à noite e não para uma entrevista", lembra. "A roupa era justa e tinha um decote muito exagerado. Apesar de excelente, não poderia apresentá-la para meu cliente." Sim, eles prestam atenção em todos os detalhes. Todos mesmo. Antes de apresentar um ótimo candidato ao cliente, uma consultora paulista preocupou-se em avisar o representante da empresa: o profissional tinha um furo na orelha. Não usava brinco, mas tinha um furinho comprometedor. "O cliente disse que não havia problema e que o candidato era muito bom. Mas que não iria contratá-lo porque não havia a tal química entre eles. Entendi muito bem o que isso significava", diz ela.

BONITOS E RICOS
Uma boa aparência não garante apenas uma vantagem competitiva numa seleção de emprego. Profissionais considerados bonitos e elegantes também costumam ganhar mais e conquistar as melhores posições. Estudo conduzido pelos economistas americanos Daniel Hamermesh e Jeff Biddle avaliou o impacto da aparência nos ganhos dos executivos. A pesquisa mostrou que quem estava abaixo do padrão de beleza recebia 9% a menos por hora e quem estava acima do padrão ganhava 5% a mais. O economista sênior do Federal Reserval de Saint Louis (uma das unidades do banco central norte-americano) Michael Owyang, aprofundou um pouco mais a questão. Segundo ele, as diferenças entre os salários dos mais bonitos e mais feios são resultados de uma queda na produtividade dos menos favorecidos. A explicação de Owyang é que quanto mais bonita for a pessoa, mais confiante e confortável ela se sente e, portanto, mais produtiva ela é.

Economistas parecem adorar essa questão. Nicola Persico, Andrew Postlewaite e Dan Silverman, das universidades da Pensilvânia e Michigan, nos Estados Unidos, realizaram um estudo sobre a relação entre os salários e a altura dos executivos. A partir de análises com americanos brancos, chegaram à conclusão de que cada 1,8 ponto percentual acrescentado ao salário correspondia a 1 polegada a mais na altura. Uma pesquisa do jornalista norte-americano Malcolm Gladwell, autor de Blink -- The Power of Thinking Without Thinking (Ed. Hardcover), com os CEOs das 500 maiores empresas americanas listadas na revista Fortune parece comprovar a teoria. Na totalidade, os CEOs são aproximadamente 3 polegadas (cerca de 7,5 centímetros) mais altos do que a média do homem americano.

PRECONCEITO?
Você pode estar pensando que as histórias acima refletem sobretudo o preconceito que reina no meio corporativo. É verdade. Há, sim, um estereótipo a ser preenchido quando se está à caça de executivos. E isso pode ser uma tacada perigosa no jogo da contratação. "O preconceito existe, sim. É natural do ser humano. Se você acha uma pessoa interessante, há uma predisposição para encontrar pontos positivos nela", diz o psicólogo Moacir Carlos Silva, do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, especializado em comportamento organizacional. "É muito importante que o headhunter se cerque de outros dados objetivos, para não comprar uma fraude", afirma.

Os recrutadores concordam e procuram ressaltar que o que está em jogo não é apenas a aparência. Ela conta muito, mas está longe de ser o único fator avaliado. "Beleza abre portas, mas isso não significa que a pessoa vai tê-las sempre abertas", afirma o consultor Carlos Diz, do Instituto de Liderança Executiva. "Para isso, você precisa provar sua competência, habilidade política e jogo de cintura no dia-a-dia. " A questão é: fica mais fácil provar que você tem conteúdo quando tem uma aparência nota 10. "Quando nivelamos candidatos em termos de competência e perfil, é claro que há um favorecimento para os mais bonitos", afirma Sofia Esteves do Amaral, da DM Recursos Humanos, em São Paulo. "Mas estamos falando de candidatos com o mesmo nível de currículo e experiência profissional", esclarece. Ou seja, nem pense em torrar as economias do MBA no próximo shopping. Você pode deixar todo mundo morrendo de inveja da sua produção, mas é claro que não vai ser contratado só por causa disso. E tem mais. De nada adianta gastar uma bolada se você não souber exatamente o que é que os recrutadores consideram um visual competente. Há uma série de regrinhas para o guarda-roupa corporativo, que incluem desde a cor da camisa até o tecido do terno. O que parece lindo para você às vezes é uma heresia para os headhunters.

O PESO DA IMAGEM

"Por mais competente e elegante que fosse, eu sempre seria uma pessoa com 130 quilos", diz o consultor de empresas familiares René Werner, de 52 anos, hoje com 75 quilos. No começo do ano passado, René fez uma cirurgia no estômago. Além de cuidar da saúde, ele constatou que um visual mais saudável iria render bons resultados no trabalho. "A aparência comprova a sua competência. O fato de corresponder à imagem esperada de um bom profissional ajuda a consolidar meus contatos com clientes", afirma. A obesidade é um fator grave de desclassificação de candidatos. Todos os headhunters entrevistados disseram que há uma forte rejeição a obesos. Segundo eles, pessoas gordas passam a idéia de lentas, doentes e preguiçosas. E René sentiu a diferença assim que fez a cirurgia. "Um dos clientes viu uma foto em que eu ainda era gordo e disse que não me contrataria se eu tivesse aquele peso", conta. René trabalha com empresas familiares e muitas vezes ajuda na seleção de candidatos. Sempre há uma preferência por profissionais que sejam elegantes e educados. "Competência é algo que se treina. Postura e boa educação, não".

QUE PRIMEIRA IMPRESSÃO!

Publicitário, diretor de atendimento na McCann-Ericsson em São Paulo, MBA da FGV, inglês fluente, experiência internacional, gerenciamento de equipes. Gostou do currículo? E se o dono for um belo executivo de 30 anos, 1,86 m de altura, olhos verdes, sorriso carismático, guarda-roupa impecável e cabelo bem cortado? É claro que a história fica bem mais interessante. E o pernambucano Maximiliano de Lacerda sabe disso. "Rostinho bonito não vale nada se você não é competente. Mas uma boa aparência é, sim, uma vantagem competitiva", afirma. Em entrevistas de emprego, por exemplo, ele está acostumado a receber um tratamento muito mais receptivo pessoalmente do que por telefone. Cara a cara, o impacto positivo da primeira impressão transmite credibilidade e facilita a conversa. "Ganho mais tempo e liberdade para passear sobre diversos temas. Assim, tenho mais chances de mostrar os meus pontos fortes", diz. Para garantir a aparência da foto acima, o publicitário faz academia com personal trainer, corta o cabelo todo mês e investe em roupas e sapatos. Segundo ele, um visual de primeira também ajuda a negociar o salário. Afinal, a imagem representa o seu padrão de vida: se ele é alto, a remuneração não costuma ficar atrás. Existe preconceito? Às vezes. Mas ele não perde tempo com quem acha que beleza e inteligência não andam juntas. E até brinca: "Uma boa imagem não é decisiva, mas é fundamental nos negócios. E ajuda nos momentos mais inusitados. Numa reunião tensa, nada como uma tirada engraçada e um bom sorriso. Não tem quem resista", diz ele, com uma boa gargalhada.

FIQUE BEM NA FOTO
Antes de ir para uma entrevista, preste atenção em alguns pontos:
AS VIRTUDES
Forma física
Apresentação impecável
Relação adequada entre peso e altura
Roupa conservadora, adequada ao ambiente da empresa
Roupa de qualidade
Ternos e sapatos escuros
OS PECADOS
Roupas baratas
Má postura
Uso exagerado de perfume
Unhas com esmalte lascado Brincos com pingentes
Ternos de poliéster
Camisas de manga curta
Roupas brilhantes
Pernas nuas à mostra
Sapatos sem engraxar, desgastados
Sobrancelhas que viram uma só
Fonte: Como Conquistar Uma Ótima Posição de Gerente ou Executivo... E Dar Um Salto Importante em Sua Vida Profissional, de Sharon Voros (Editora M. Books)


8 truques para um visual nota 10

Como se vestir superbem para a entrevista de emprego -- e os erros que você jamais deve cometer!

Por Daniela Diniz

1 - OLHA ONDE PISA!
"A primeira coisa que olho num candidato são os sapatos", diz a headhunter Magda Fraga, da DPS Consult, em São Paulo. Segundo a consultora Ilana Berenholc, os homens devem usar sapatos pretos de amarrar, com solado de couro. As mulheres fazem bonito com um escarpim preto de salto médio.

2 - MADEIXAS SOB CONTROLE.
Ninguém espera encontrar um executivo de cabelos longos ou volumosos. Para os homens, a regra é uma só: cabelos curtos e com aparência de limpos. Se usar gel para domar a rebeldia dos fios, evite o aspecto de molhado. As mulheres podem usar o cabelo curto ou médio, com uma coloração discreta. E de preferência liso, porque assim ele transmite mais seriedade. Seja qual for o corte, o importante é não deixar o cabelo cair no rosto. Se você corre esse risco, é melhor prendê-lo. 3 - ENTREVISTA NÃO É FESTA.
"Não é raro encontrar mulheres que vão para uma entrevista como se fossem para uma festa", diz a headhunter Fátima Zorzato, da Russell Reynolds Associates. "Mas essa candidata já chega perdendo pontos", decreta. Para a consultora Ilana, batom e rímel são indispensáveis. O pó serve para tirar o brilho do rosto. "Se usar sombra, opte pelos tons neutros -- marrom, bege, grafite. Nada que lembre uma aquarela, em tons de azul, rosa e verde", recomenda.

4 - QUANDO A MEIA DETERMINA SEU EMPREGO.
"Tive um cliente norte-americano que julgava os candidatos pelas meias que usavam", diz uma ex-headhunter paulista, com 15 anos de experiência em recrutamento de executivos. "Se os profissionais não sabiam combinar as meias com a roupa, significava que eles eram pouco detalhistas." Pode parecer absurdo, mas as meias tiram a atenção dos entrevistadores: a cor e o tamanho principalmente. "Não tem nada mais feio do que perna de homem", afirma Carlos Diz, ex-sócio da SpencerStuart, uma das maiores empresas de contratação de executivos do mundo, e sócio do Instituto de Liderença Executiva, no Rio de Janeiro. "A meia deve ser comprida o suficiente para cobrir toda a perna quando o homem senta", diz o consultor. Para as mulheres, é fundamental usar meia-calça da cor da pele quando vestirem saia.

5 - NADA COMO UM COLAR DE PÉROLAS.
Acredite, você não quer parecer uma árvore de Natal. Na hora de escolher os acessórios, os homens devem optar apenas por aliança, relógio (clássico, metalizado ou com pulseira de couro) e abotoaduras. Nada de prendedores de gravata e muito menos pulseiras. Já as mulheres devem passar longe de bijuterias extravagantes e escolher brincos discretos. No pescoço, se a roupa permitir, apenas uma correntinha ou pérolas (infalíveis!). Segundo a norte-americana Sharon Voros, autora do livro Como Conquistar Uma Ótima Posição de Gerente ou Executivo... E Dar Um Salto Importante em Sua Vida Profissional (Editora M. Books), brincos e colares de pérolas indicam que a candidata tem classe e elegância.

6 - DETALHES QUE FAZEM (TODA!) A DIFERENÇA.
Mantenha as unhas sempre curtas. As mulheres devem optar por esmaltes claros, no tom bege ou branco. Cheiro é outro detalhe que incomoda os entrevistadores. Nada de exagerar na dose do perfume. Tem mais. O perfil do executivo ideal não abre espaço para barba. Mesmo que ela esteja superbem feita e siga as últimas tendências. Navalha nela!

7 - OLHOS NOS OLHOS.
De nada adianta ser lindo e usar um traje perfeito se você não sabe se comportar na sala de entrevistas. Não se iluda, o headhunter está de olho em tudo. Tudo mesmo. Na forma como você conversa, senta, aperta a mão ao cumprimentar e lida com seus objetos pessoais. Por isso mesmo, não mostre o celular e não espalhe seus pertences na mesa. Aperte a mão com firmeza e olhe nos olhos de quem está falando. "Passar uma boa energia é fundamental para sua imagem", diz Ilana. Outro detalhe: pega bem chegar alguns minutos antes.

8 - COM QUE ROUPA EU VOU?
O homem deve usar terno de lã super 100 nas cores cinza e azul-escuro, camisa branca ou azul-clara (sempre de manga comprida) e gravata de seda. "Jamais escolha um terno de poliéster ou microfibra. E fuja das gravatas temáticas", diz a consultora de imagem Ilana. Para as mulheres, o terninho pode até ser substituído pelo tailleur, mas é preciso ter pernas bonitas e saber se sentar com a saia (com a perna direita cruzada sobre a esquerda, na altura do joelho). Os tons também devem ser escuros: preto, cinza ou azul-marinho. Para acompanhar, uma camisa ou um top. O limite do decote é a linha da axila. "Transparência e brilho estão fora de cogitação", avisa Ilana.

IMAGEM É TUDO
Foi a consultora de imagem Ilana Berenholc que orientou a produção do teste. Ela instrui executivos sobre roupas e postura, e tem clientes como o BankBoston. Confira suas dicas:

Quais são os erros mais comuns na hora de se vestir para uma entrevista de emprego?
Na tentativa de seguir a moda, os profissionais acabam usando trajes incorretos. As mulheres abusam da calça curta e de acessórios extravagantes. Os homens gostam de parecer modernos, usando camisa preta e sapato caramelo, por exemplo. Não ouse fazer isso!

Há diferença entre o visual indicado para uma entrevista na área de marketing e outra na área financeira, por exemplo?
O mercado financeiro é mais formal do que o de marketing, mas não há tanta flexibilidade assim. Um visual clássico vale para todas as posições. E é isso o que se espera do executivo, independentemente da área em que ele atua.

A aparência derruba um bom currículo?
Sem dúvida. A entrevista começa quando você abre a porta, e não quando começa a falar.
Se, nos primeiros segundos, o entrevistador não gostar de algo em você, pode ter
certeza de que ele não vai vê-lo com bons olhos, por mais brilhante que você seja.


Veja nas matérias seguintes como acertar no visual para a próxima entrevista de emprego:


Para eles, o que importa é estilo

Dois presidentes contam como romperam a patrulha do terno e gravata e ainda tiraram suas empresas do sufoco

Por Fernanda Bottoni

Um desenha suas próprias roupas, que ele mesmo considera estranhas, só veste branco em nome da paz. O outro, que vive na Amazônia, usa um jaleco parecido com colete de fotógrafo. O que eles têm em comum? São executivos com verdadeira aversão a gravata e o mérito de terem conseguido tirar suas empresas de situações complicadas. Eles são, respectivamente, Michael Haradom, presidente e co-fundador da Fersol, e Ulisses Tapajós, presidente da Flextronics Manaus, ex-Multibrás da Amazônia. A seguir, conheça um pouco do estilo, dos causos e dos feitos de cada um.

Você contrataria Ulisses?

A imagem do amazonense Ulisses Tapajós é quase caricata. Falante e engraçado, ele adora gravar programas de TV, exibidos em telões para os 928 funcionários da empresa. Se sente tão à vontade diante das câmeras que deixa uma fita de vídeo gravada quando não pode estar no escritório para receber um visitante. Este ano, como presidente da Multibrás da Amazônia, encabeçou a venda da empresa pelo grupo Brasmotor para a americana Flextronics. A pedido dos novos donos, continua sendo o CEO, agora comandando a Flextronics Manaus.

Com 58 anos, mas corpinho de 38, segundo ele mesmo, Ulisses combina cores como preto com amarelo e verde-escuro com verde-claro. "E não uso terno e gravata porque faz muito calor em Manaus", diz ele, rindo. Por cima da camisa, veste um jaleco parecido com um colete de fotógrafo -- peça do uniforme dos operários. "Quanto mais as pessoas se parecem, mais fácil fica o relacionamento", explica.

Ulisses assumiu a empresa em 1993, quando ela estava prestes a fechar, ameaçada pelos produtos asiáticos. Ele, então, buscou tecnologia de ponta e criou um modelo de gestão baseado na qualidade total e nas pessoas. Os resultados foram positivos. Em 2003, o faturamento foi de 105 milhões de reais. Para este ano, prevê faturar 200 milhões de reais. E aí ele pergunta: "Formalidade para que mesmo?".
Ulisses Tapajós, de 58 anos, da Flextronics Manaus: colete igual ao dos operários

Você contrataria Michael?

Há uma década, Michael Haradom, de 57 anos, presidente e co-fundador da indústria química Fersol, expressa no vestuário sua filosofia de vida. Tudo no seu guarda-roupa é branco. Até smoking, terno e gravata. Aliás, o terno só é usado em ocasiões muito oficiais. No dia-a-dia, faz questão de se sentir confortável. "Tenho roupas bem estranhas. Eu mesmo desenho as peças, mando comprar o tecido e peço para fazer", diz ele. Recentemente, Michael pediu desculpas a um grupo de chineses engravatados por estar vestido tão à vontade.

Argentino, judeu, ex-integrante do exército de Israel, hoje Michael faz parte da Associação Palas Athena, que promove e incuba projetos nas áreas de educação, saúde, direitos humanos, meio ambiente e promoção social. Na mesma época em que abandonou as cores e os ternos, ele deu uma guinada na empresa. Em 1995, a Fersol beirava a falência, com faturamento de 12 milhões de dólares e uma dívida de 10 milhões. Nove anos depois, em 2004, o faturamento alcançou 100 milhões de dólares.

A guinada na gestão incluiu até uma mudança na forma de falar. Michael substitui palavras negativas como "policiar" e "destruir" por "observar" e "desconstruir". "Fiz isso porque adotamos uma gestão feminina, com mais intuição e menos pragmatismo, mais sentimento e menos razão", afirma. Atualmente, 65% do quadro de funcionários são mulheres e 42%, profissionais negros. "Tento mostrar a cada dia que a seriedade e a confiança que você passa para os pares e funcionários dependem da coerência entre seu discurso e sua atitude", afirma.

Michael Haradom, de 57 anos, da Fersol, de São Paulo: ele desenha e manda fazer suas roupas brancas.

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